terça-feira, 30 de outubro de 2012

Resumo texto lido

RESGATE DO ATOL DAS ROCAS

    Estava difícil de suportar a permanência naquela ilha. Era dezembro de 1991. O único botijão de gás já dava mostras que ia acabar. A sensação era de terrível isolamento, agravada pelo abastecimento precário, água para consumo estragada, rádio de longo alcance fora de operação, gerador de força e motor de popa quebrados. Não havia razão para permanecermos no local. Meus companheiros, Bam e Miguel, ambos fiscais do Ibama, nascidos e criados na ilha de Fernando de Noronha, acostumados às condições do lugar, pareciam não se importar com a situação precária em que nos encontrávamos. A certeza confirmou-se na manhã em que o gerador pifou.
    Tínhamos que sair dali de qualquer jeito. Circulamos no inflável pelo interior da laguna, na parte em que as águas são abrigadas do vento e permanecem imóveis, sem o efeito de arrasto dos canais, que se comunicam com o mar oceânico, mas não encontramos saída.
    Encontramos nosso inimigo: um grande tubarão cabeça-chata. É o tubarão que mais ataca o ser humano, e está amplamente disseminado por toda a faixa circuntropical dos oceanos. O momento mais angustiante do encontro é quando, ao retornar o olhar sobre a fera, não a encontramos mais.
    Foi quando vimos no horizonte, a chance de sair dali. Apareceu um navio militar que poderia nos socorrer. Porém, não encontrando jeito de chegar próximo a nós, para meu desespero, recebemos uma mensagem de despedida - “... e boa sorte!” - do comando da frota. Algo tinha que ser feito.
    Resolvemos ir ao encontro deles, nos arriscando a ultrapassar a barreira de recifes. O comando concordou e foi assim que, quarenta e oito horas depois, eu desembarquei no cais de Fortaleza, usando um par de sandálias velhas doado por um sargento, uma camiseta, cedida por um oficial, e meu velho calção de banho. Da amarga experiência ficou a certeza de que um dia eu ainda voltaria àquele atol; o que de fato aconteceu, seis anos mais tarde.

Nenhum comentário:

Postar um comentário